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Ultrarunning

'Genética e ônibus: como me tornei ultramaratonista'

Fernanda Maciel

Ultrarunning

© Marcelo Maragni / Red Bull Content Pool

Escrito por Fernanda Maciel 2s atrás 2019-10-07

Em seu primeiro texto, a atleta conta o caminho até virar uma campeã das corridas de longa distância

Eu não gostava de andar de ônibus. Na adolescência, então, preferia ir para a escola a pé, subindo ladeiras correndo, e assim chegava mais rápido. E este é um motivo importante para hoje eu ser uma ultramaratonista. Mas essa não é toda a história, como vou contar nas próximas linhas neste meu primeiro texto para o RedBull.com, onde passaremos a nos encontrar com frequência.

É certo dizer que escolhi o esporte ainda criança, em casa. Venho de uma família de atletas. Meu avô era lutador de jiu-jitsu, na casa dele tinha um ringue onde meus primos e eu treinávamos boxe. Meu pai lutava taekwondo e era mestre de capoeira. Como eu poderia escapar? Meu primeiro contato foi com a ginástica artística, ainda criança treinava quatro horas por dia, das 5 da tarde às 9 da noite. Cheguei a ir para os Estados Unidos competir. Mas não era apenas a ginástica.

Enquanto estudava para cursar direito, achei na corrida a maneira de me manter em forma e em contato com o esporte

Tendo a luta no sangue na família, pratiquei capoeira e acabei me tornando campeã brasileira de jiu-jitsu. E você talvez esteja se perguntando o que todo este ambiente esportivo tem a ver com o que faço hoje, o que tem a ver com ser uma ultramaratonista e correr em algumas das maiores e mais famosas montanhas do mundo. A corrida sempre esteve ao meu redor. Sempre fez parte da minha rotina de exercícios quando era ginasta e quando me dedicava à luta.

Quando tinha 19 anos, porém, outra prioridade apareceu: eu estudava muito para entrar na faculdade de direito e sobrava pouco tempo para praticar esportes. Achei na corrida minha saída. Eu corria, corria para me manter em forma e passei a disputar provas de 5 km, fiz a volta de Pampulha, de 18 km. Comecei a ganhar na minha categoria e tinha prêmio em dinheiro, 200, 300 reais em cada uma e fazia uma grana, ajudava em casa porque na época meu pai estava doente.

Virar corredora foi um movimento natural. E percebi que um mundo de oportunidades se abria pra mim pela corrida. Eu ia tomar banho de cachoeira e fazia o caminho correndo. Passei a entender que, pelo esporte, poderia conhecer o mundo. E tudo isso começou como um meio de transporte.

Eu não sonhava ser uma ultramaratonista. Mas fui aumentando as distâncias, aumentando, aumentando. Em 2006, estava na Nova Zelândia para fazer a minha primeira maratona em montanha. Dois anos depois, na Califórnia, fiz a minha primeira ultramaratona em montanha. E assim decidi seguir, no contato com a natureza e me desafiando. Fui morar na Europa em 2009 e desde então corro as mais emblemáticas ultramaratonas do mundo e fiz pódio em todas.

Eu comecei cedo e tive uma preparação física e mental ligada ao esporte. Além do fator genético, de vir de uma família de lutadores. Assim consegui, mesmo sendo brasileira, de um país que não tem montanhas tão altas, competir com espanholas, com francesas. E isso tem a ver com tudo que eu carrego desde a infância, e, por que não, com aqueles dias trocando o ônibus pelas corridas.