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Sociologia Associativa

Laboratório de Sociologia dos Processos de Associação (LaSPA) | grupo de Science and Technology Studies [STS]

O Laboratório de Sociologia dos Processos de Associação (LaSPA) é sediado no Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), ligado ao Grupo de Pesquisa Conhecimento, Tecnologia e Mercado (CTeMe) e coordenado pelo Prof. Pedro P. Ferreira (Depto. de Sociologia). A proposta do laboratório é fomentar pesquisas que, em busca de uma melhor apreensão dos processos de associação, envolvam tanto experimentação conceitual quanto fundamentação empírica.

Presente de maneira difusa nos escritos de muitos dos primeiros cientistas sociais (e.g.: Marx, Weber, Simmel, Durkheim, Tarde), o estudo dos processos de associação foi recolocado no centro das preocupações de cientistas sociais de diversas áreas na passagem do século XX ao XXI, em grande parte devido às transformações sociais ligadas ao desenvolvimento das tecnologias da informação (cf. Garcia dos Santos 2003a, 2003b). A revolução computacional nos estudos de redes sociais é uma dessas transformações (cf. Barabási 2005; Gilles 2012; Heyman 2006; Roehner 2007; Strogatz 2001; Szell et al. 2010; Watts 2007; Watts e Strogatz 1998), estimulando inclusive novas tentativas de aproximação entre as ciências naturais e as sociais. No entanto, o pressuposto de que redes “sociais” poderiam ser claramente distinguidas de outros tipos de rede (e.g. técnicas), ou que fenômenos ou fatos “sociais” poderiam ser claramente distinguidos de outros tipos de fatos ou fenômenos (“naturais”, “psicológicos”, “técnicos”, “políticos”, “econômicos” etc.) tende a limitar, a priori, o tipo de sociedade que podemos vir a conhecer a partir desse tipo de estudo. Seria preciso generalizar nossa idéia de socius para além do estritamente humano ou mesmo vital – rumo, por exemplo, ao “ponto de vista sociológico universal” de Gabriel Tarde (2007) – para retomar nossa participação, como cientistas sociais, no processo de expansão e desenvolvimento humano e social em que estamos eticamente envolvidos (cf. Foucault e Deleuze 1992; Latour 1998; Simondon 1994; Viveiros de Castro 2007).

A uma Sociologia Associativa interessam, assim, as múltiplas correlações entre processos de associação tão heterogenéticos quanto: a sociologia vegetal (cf. Braun-Blanquet 1932); a simbiose (cf. Sapp 1994); associações psicológicas (James 1952); a associação de idéias (cf. Hume 1991); a livre associação psicanalítica (xxxx xxxx); o associativismo político (xxxx xxxx); a sinergética (Buckminster-Fuller 1979; ou mesmo na versão de Hakken xxxx); o acoplamento de osciladores em física, química ou biologia (xxx xxxx); as mineração de dados, em especial as regras de associação (xxxx xxxx); a dança (xxx xxxx); os ritmosna comunicação (Sacks xxxx) e no movimento (Kugler e Kluver xxxx); a morfogênese (Thom xxxx); a antropotécnica (Leroi-Gourhan xxxx); a geografia temporal (Haegerstrand xxxx); a lógica abdutiva (Peirce xxxx); as redes sociais (xxxx xxxx). Em todos os casos, o importante é abordar qualquer objeto da perspectiva das associações (internas e externas) que o originam e conduzem seu desenvolvimento. Frente à recalcitrância do objeto, o estudo dos processos de associação exige do investigador/analista uma cuidadosa consideração – ou mesmo a invenção – das categorias e dos conceitos empregados. Por um lado, isso aproximaria a Sociologia Associativa de propostas “metassociológicas” como a Etnometodologia (cf. Garfinkel 2002) e a Teoria Ator-Rede (cf. Latour 2005) e de metodologias empíricas como a etnografia (cf. Favret-Saada 2005). Por outro lado, essa preocupação conceitual também aproxima o paradigma associativo de algumas vertentes filosóficas que se dedicaram a pensar a produção, a diferença, a individuação, a heterogênese, os agenciamentos etc. (com destaque aqui para os escritos de Henri Bergson, Gilbert Simondon, Félix Guattari e Gilles Deleuze).

No geral, o estudo dos processos de associação privilegia a dimensão interacional e contextual das práticas sociais, ou seja, as maneiras como sociedades são desempenhadas de diferentes maneiras e com diferentes recursos por agentes situados em diferentes contextos e em diferentes condições. Trata-se de um enfoque mais interessado nos processos de sociogênese do que na manutenção de ordens sociais já consolidadas, encarando estas como casos-limite daqueles. Trata-se, enfim, de um esforço para conhecer novas (ou renovadas) maneiras de coexistir sem reduzi-las aos conceitos e categorias já marcados por pressupostos sobre “o ser humano” ou “a sociedade”.

Mais especificamente, o estudo dos processos de associação toma como unidade de análise a “ação associativa“. Por “ação” entende-se qualquer propagação especificável de uma diferença-variação. Por ação associativa entende-se qualquer ação que: (1) associe diferentes meios pela sua própria propagação; ou (2) contribua para a composição de um meio específico pela sua própria reiteração. A ação associativa se manifesta, portanto, em duas modalidades: (1) como uma ou mais linhas de ação associativa se propagando por diferentes meios; e (2) como associação de linhas de ação covariantes em um meio. Há um caráter predominantemente diacrônico ou sintagmático na idéia de linha de ação associativa, favorecendo a busca por relações causais ou do tipo antecedente/consequente, enquanto que na idéia de meio associativoum caráter predominantemente sincrônico ou paradigmático, favorecendo a busca por simetrias e regularidades sistêmicas. Uma linha de ação associativa pode ser entendida como uma propagação variável, por diferentes meios, de uma certa configuração relacional, sendo a trajetória especificável desta propagação um índice do processo de associação como linha. Já um meio associativo pode ser entendido como uma reiteração variável de uma certa configuração relacional de linhas de ação, sendo a consistência especificável desta reiteração um índice do processo de associação como meio. Nota-se, imediatamente, que a definição de cada uma das manifestações da ação associativa pressupõe a outra (a linha atravessa meios que são compostos por linhas), de maneira que podemos encará-las como duas perspectivas sobre o mesmo fenômeno, algo como olhar para um tecido, ora da perspectiva de cada um dos fios que o compõem, ora da perspectiva da malha que eles compõem e mantêm em conjunto. Em ambos os casos, trata-se de rastrear um processo de associação e torná-lo acessível à análise, mas em um caso enquanto delineamento de uma ação associativa e no outro enquanto especificação de um meio associativo.

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